Capítulo 10: Ódio
Kamui observava aquilo, furioso, Ellen havia sido atravessada por uma lâmina e sangrava muito, porém a pior parte eram as crianças presas dentro de um orfanato em chamas.
- Parem já! - Ele corre em direção ao grupo, que tenta lançar magias nele, porém um deles é socado com força, sendo arremessado até outros dois, derrubando-os. - Eu vou ajudar vocês, aguentem!
Essas são as palavras emitidas por Kamui, as quais fizeram os olhos das crianças brilharem de alegria, já que Ellen estava enfraquecida e caída no chão com uma lâmina em sua barriga, a mulher tentava se levantar, porém Cassius a chuta.
- Acha que vai fugir? Pensa de novo! Esse é o seu castigo pela deserção. - Ele levanta a cabeça dela e a faz encarar o orfanato em chamas. - Você não só aprendeu técnicas hereges, como as passou para crianças, corrompendo suas vidas. Estamos aqui para purificar suas almas.
- As crianças... não tem nada a ver... com isso! - Ela tem o rosto esfregado no chão e logo depois Cassius pisa em sua cabeça.
- Que garantia temos? Melhor garantir que todas as técnicas hereges sejam apagadas, além disso, você fazia pior, não é? Abadessa Ellen, Ex-Líder dos Inquisidores.
Quando ele menciona essas palavras, as memórias da mulher a transportam para outro período, 7 anos atrás, ela era membro da Fé da Luz Vermelha, parte do clero e líder da Inquisição.
Ellen tendia a executar missões de extermínio e frequentemente era responsável por diversas mortes.
- Sinto muito, mas é uma perda necessária, sua alma será levada e devolvida até a "Grande Criadora". - Ela dizia enquanto utilizava uma lâmina de magia para atravessar uma mulher, com crianças observando, seus próximos alvos.
Ela nunca havia parado para pensar se aquilo era o correto, apenas cumpria sua missão, crente que estava fazendo isso pela paz em Raret, já que os chamados "demônios" e "hereges" eram os responsáveis pelos conflitos.
Porém, após notar o rosto amedrontado de crianças que ela devia matar, pela primeira vez ela questionou:
- "O que eu estou fazendo?! Elas são apenas crianças... Não têm nada a ver com esse conflito. Poderíamos ensiná-las o jeito certo e poupar suas vidas... Não, não... Essa é uma missão sagrada." - Ela tentou afastar os questionamentos de sua mente, tentando fugir da culpa por ter de executar crianças. Esse era o passado de Ellen, a Punição... Uma pessoa impiedosa que apenas acreditava em uma única "verdade".
Entretanto, a cada missão que ela fazia na qual era necessário eliminar indivíduos que sequer reagiam e crianças, suas crenças aos poucos eram abaladas... Isso realmente era o certo?
- "Entrei para a Fé para criar um futuro melhor, para as crianças não crescerem em meio ao ódio... Qual a diferença entre as que quero ajudar e essas que eu tenho que matar?" - A cada dia que passava, seus questionamentos aumentavam, mas não havia ninguém para respondê-los.
Logo chegou o fatídico dia que mudaria completamente a vida de Ellen. O Arcebispo chamou ela e ordenou que cumprisse um dever como líder da Inquisição: destruir completamente um vilarejo, sem deixar ninguém vivo.
- Então esta é sua missão: Eliminar os elementos subversivos nessa região dentro da nação de Daihan, há indícios deles estarem corrompendo a população de um vilarejo, muitos Mythis e humanos estão desenvolvendo a técnica herege, colocando suas vidas em risco. Leve sua equipe, lembre-se do porquê estamos fazendo isso.
- Sim, arcebisbo, nossa missão é trazer a paz até Raret, um mundo onde não haja sofrimentos ou conflitos. Utilizando a magia, como a Luz e seus Arautos desejam. - Ela se ajoelha e abaixa a cabeça. - Eu, "Ellen, a Punição" irei desempenhar a sagrada missão com louvor.
E assim, ela e seu esquadrão partiram para a montanhosa região de Daihan, suas casas tinham um modelo oriental, vários indivíduos andavam tranquilamente em quimonos e a expressão cultural era grande, no momento, eles faziam uma festividade local, que comemorava o ciclo de destruição e renascimento, mostrando um símbolo de união entre Luz e Sombra, dois lados da mesma moeda.
Ver esse local pacífico conflitou com tudo o que havia sido dito a Ellen, que estava maravilhada com toda a paz do lugar. Ela nunca havia parado para observar o lugar antes de atacar, mas não parecia muito diferente de como os outros Mythis e humanos viviam suas vidas. Essas pessoas mereciam morrer só por utilizar uma técnica proibida? Esses foram os únicos pensamentos que surgiram em sua mente, contudo ela não teve tempo de reagir, uma vez que seus subordinados iniciaram os ataques sem ordem prévia.
- Supplicium: Damnatio. - Jaulas são convocadas e caem sobre as pessoas da vila, enquanto o grupo de inquisidores começa a atacar a vila, a mulher começa a notar que não havia qualquer reação do lado dos atacados, estava sendo um massacre unilateral.
- "Eu não entendo... onde está toda a ameaça? Por que estamos fazendo isso?" - Os gritos de desespero começaram a ecoar na mente de Ellen. Ela coloca as mãos na cabeça e ajoelha-se no chão. Ela achava que haveria maior hostilidade no ambiente, mas parecia que os errados estavam ao lado dela. - "Não pode ser... nós somos os monstros aqui?! Todos eles não fizeram nada... só estavam vivendo suas vidas".
Espadas perfurando pessoas, gritos de agonia, casas incendiadas, tudo isso demonstrava a enorme crueldade que Ellen desconhecia. Não, ela conhecia sim, apenas não queria acreditar, estava tão cega por um ideal errôneo que não enxergava a dor que causou.
- Não, não, não! Por quê?! Estávamos apenas tentando fazer um mundo melhor! - Essas eram as palavras que dizia a si mesma, porém ela logo começa a perceber, os olhares pedindo por clemência, as existências cujas vidas foram privadas. Ela notou que não passava de uma assassina, alguém que cometeu crimes e estava apenas tentando justificar suas ações. - Não... somos criminosos... não sei mais o que acreditar. - Essas foram as palavras da mulher antes das partes de uma casa caírem sobre ela, fazendo-a perder a consciência.
Quando ela despertou, o amanhecer já havia chego, seu esquadrão de Inquisidores já não estava mais lá. Ellen consegue remover os entulhos de cima dela, seu manto estava rasgado, seu rosto tinha marcas de cinzas e seu corpo estava sangrando com algumas marcas de queimadura.
-Alguém?! Alguém aí?! - Ela gritava, buscando respostas de sobreviventes ou de alguém que pudesse ajudar. - Foi minha culpa, esse era um local tão belo, mas arruinamos essa paz... - Seu semblante triste mostrava o arrependimento de suas ações, mesmo que estivesse sendo manipulada, nada mudava o fato que ele liderava um grupo para exterminar pessoas inocentes e ela mesma havia ceifado inúmeras vidas no passado.
Em meio aos destroços e desesperanças, ela ouve um som de choros sob os destroços, levantando o que estava no chão e encontrando um grupo de crianças, uma de 3, outra de 5 e uma que aparentava ter menos de um ano, as três estavam feridas e cobertas por poeira e cinzas, com olhares amedrontados. Isso fez Ellen notar a gravidade de seus erros, por culpa dela, muitas outras crianças haviam perdido seus pais.
- "Eu acreditava que fazíamos o certo... mas no fim, não passávamos de verdadeiros monstros. Eu consigo ver agora, minhas ações não tinham justificativa... - Ela encarava toda a cena com um claro arrependimento nos olhos, querendo que todas as vidas ceifadas por ela pudessem voltar e implorar perdão a elas.
-Mãi, mamãi... cadê vucê?! - Os gritos da criança mais velha, chamando por sua mãe em desespero, fizeram Ellen voltar a si.
- "Eu não tenho salvação pelos meus pecados... mas essas crianças não têm culpa de nada. Não posso deixá-las aqui." - Esse foi o pensamento que ecoou da mente de Ellen, sua vida foi repleta de erros, mas ela pensou que apesar deles, ela ainda possui um coração.
Ela se aproximou do grupo e tentou tirá-las da área de escombros, porém elas estavam com medo da mulher. Mesmo assim, ela tentava chamá-los e tirá-los da região, afinal ainda havia muitos escombros que poderiam cair a qualquer momento.
- Vamos, não precisam ter medo, eu só quero ajudar e... - Antes de completar a frase, um monte de escombros começa a cair em direção às crianças, Ellen notou isso e correu para tentar protegê-las, tentando cobrí-las com seu corpo. O som dos do impacto foi ouvido, no entanto, Ellen e as crianças estavam bem, os 4 estavam intactos.
A mulher não entendeu, deveria estar morta, mas seu corpo aguentou o peso dos escombros de forma misteriosa. Porém o esforço em aguentar o peso, começou a fazer suas forças se esvairem.
- Encontramos sobreviventes, aqui! E um deles parece ser usuário de "Impressão". Vamos tirá-los daqui. - Essas foram as palavras de uma voz misteriosa que foi ouvida antes de Ellen apagar.
Um tempo depois, ela desperta, observando telhado de pedras totalmente desconhecido. Ela se esticou e, por algum motivo, conseguia se mover, o que ela estranhou já que havia sido atingida por entulhos.
- Bom dia, senhorita. Vejo que está em plena saúde. - Um indivíduo com pequenos chifres na cabeça entrou com um prato de comida. - Não se preocupe, as crianças que você estava protegendo estão bem. Graças a você, os ferimentos delas foram apenas superficiais.
Ellen estava surpresa com a aparência, ela conhecia essa fisionomia. O homem possuía olhos verdes e cabelos pretos, sua pele era levemente acinzentada.
-... um demônio...? - Quando mencionou essa palavra, a mulher foi encarada com uma feição um pouco incomodada.
- Com licença, poderia evitar de usar esse termo? Somos Azanianos, na verdade. "Demônio" é um termo... complicado, para dizer o mínimo. - Ele diz enquanto entrega o prato para a mulher. - Meu nome é Jalil, eu encontrei vocês 4 naquela área. Parece que a Fé fez um ataque grave. - O homem observa de forma sutil para a mulher. - Mas fico surpreso que um deles tenha protegido as crianças. - Após mencionar isso, Ellen o observa incrédula e ele ri levemente. - Relaxe, descobrimos isso por aquele manto rasgado.
- Por que me salvaram? Vão me matar agora? - Ela estava cabisbaixa, sua percepção sobre Azanianos era preconceituosa, achava que todos eram cruéis, Jalil a encarou confuso.
- Por que faríamos isso? Não vamos matar alguém que tentou proteger um dos nossos. Afinal, uma das crianças é Azaniana. - Ele observa a janela e sorri vendo as crianças próximas brincando. - Viemos de outro continente, Azania. A maioria dos Norveus nem devem saber nossas origens.
O continente de Norvania, considerado por muito tempo a única região de com terras em Raret, é um arquipélago com múltiplas ilhas pequenas, porém há 3 macro ilhas principais: Inji, Nilileia e Sancta Isla.
Ellen fica confusa, outro continente? Era isso possível? As perguntas invadiam sua mente. Mas uma principal surgiu.
- Mas como eu estou viva? Os destroços caíram sobre mim. Eu deveria ter morrido. - Entre todas as dúvidas dela, essa havia sido a principal. O homem sorriu e decidiu contar.
- Foi o nível 1 da Impressão, "Pomun", ele te salvou por melhorar seu físico temporariamente... mas o uso exagerado te causou a exaustão. - Quando ele mencionou todas essas palavras, as dúvidas de Ellen ficaram ainda mais aparentes. - É o que vocês acreditam ser a "técnica herege", mas ela não tem nada a ver com o que a Fé espalha, ou melhor, com a maior parte do que é dito por ela.
Apesar de temerosa, Ellen ouviu o que significava a "Impressão" e com o tempo começou a treinar seu uso. Após um tempo, conseguiu utilizar de forma adequada.
- Meus parabéns, faz cerca de 1 ano que está aqui e já dominou o nível 2 da Impressão: "Akal", é bem difícil sair de um nível para o outro em tão pouco tempo.
Ellen aproveitou bastante o tempo e aprendeu sobre muitas coisas a respeito desse mundo. Sobre a perseguição que Azanianos sofrem, sobre a Impressão e sobre a "Seita do Fim", para onde muitos dos Azanianos mais radicais acabam indo para conseguirem devolver todo o sofrimento causado pelos Mythis e humanos. Quando Ellen descobre sobre tudo isso, sugerem a ela criar um lugar que fosse capaz de criar uma nova esperança para o mundo, onde as crianças pudessem crescer sem ódio em seus corações.
E assim, Ellen fundou seu orfanato e vagou por Raret resgatando crianças que perderam suas famílias pelo conflito, buscando redimir-se pelo o que havia feito no passado. Ela não esqueceu seus erros, nunca esqueceria, mas não poderia ficar presa aos seus crimes, apenas fugindo deles.
As memórias se encerram com o som de gritos chamando por Ellen, ela logo percebe a fonte, ficando desesperada.
- Crianças! - O pensamento de perder aquelas que acabaram sendo sua família pelos últimos 5 anos criou uma força descomunal na mulher que agarrou um graveto do chão e conseguiu se levantar apesar do peso de Cassius em sua cabeça. - Eu... vou salvar vocês! Nível 3! "Aztertu"!
Ao mencionar essas palavras, ela envolve o graveto com uma estranha energia e é formada uma grande foice, Ellen começa a acertar todos os alvos próximos, apesar de possuir uma lâmina cravada em suas costas. Tudo o que ela sentia de dor, não era nada comparado ao pensamento de perder as crianças. Ela recebia ataques de magia, golpes de armas brancas, sangrava, feria-se, mas permanecia lutando.
Kamui estava aproximando-se cada vez mais, socando quem entrasse em seu caminho, seu olho azul continuava a brilhar e seu corpo estava lutando sem parar. Cortes de ar são liberados, porém o Akame consegue esquivar e chuta a cabeça de quem lançou. Tentaram atingí-lo com lanças e espadas, mas o garoto as quebra com chutes. Quando chega a beira de ajudar Ellen, seu corpo esgota-se e sua visão fica levemente turva, o que permite dois homens da Fé o segurarem e colocarem-no de joelhos.
-"Merda! O que aconteceu?! Minhas forças... estão indo embora..." - Ele observa e nota Ellen ainda lutando, com força de vontade em seus olhos, ele tenta se levantar, mas é facilmente neutralizado. - Me soltem! Droga! Ellen! Pirralhos!
Ellen continuava a enfrentar grupos de inimigos, porém uma voz a faz parar. Cassius aparece em frente a ela com uma garotinha de cabelos lilás pendurada e com uma adaga apontada para seu pescoço, era Hikari.
- Olha o que estava se escondendo aqui... uma meio sangue... você decaiu muito, Abadessa Ellen. Antes era quem mais exterminava esses tipos, agora ficou amiguinha deles? - Ellen observou aquilo e quase correu em direção ao homem, mas ele deu um pequeno passo atrás e aproximou a adaga. - Cuidado, se me irritar, essa garotinha será purificada antes. Faça como eu digo e não machucarei ela.
Ellen estava com fúria em seus olhos, as crianças estavam em meio ao fogo, era questão de tempo até perdê-las, mas teria que lutar para salvá-las, de outro lado, havia Hikari, a garotinha estava em perigo e poderia morrer também. A dúvida perturbou a mente da mulher, porém ela decide soltar o graveto ao chão.
- Podem fazer o que quiserem, mas não machuquem as crianças... deixem-nas viver, eu suplico. - Ela diz isso enquanto levanta as mãos ao alto, mostrando estar desarmada.
- Você amoleceu, ninguém se importaria se essa garota se fosse. Ataquem. - Ele ordena e um grupo de homens perfuram Ellen de todos os lados com suas lanças, fazendo-a cair ao chão. - Agora, matem essas crianças todas também. - Essa frase fez Ellen arregalar os olhos.
-MALDITO!!!! - Kamui se debateu enquanto era segurado, ele não acreditava que havia monstruosidade de tal gravidade. - Ela havia desistido, poupe elas!
- Por que eu iria? Elas já estão manchadas. - Ele joga Hikari ao chão e a chuta. - Não passam de existências pútridas que conviveram com técnicas hereges... e essa garotinha... carrega o sangue daqueles que rejeitaram a Luz, sua própria existência é um pecado. Eu mesmo irei libertá-la dessa dor.
- Senhorita Ellen! - As crianças em meio ao fogo gritam pelo nome da mulher, que apenas tem lágrimas escorrendo pelos seus olhos, o teto então cai e um enorme barulho é ouvido, a expressão de Ellen muda para desespero e Kamui começa a se debater ainda mais.
- Me soltem, desgraçados! Ainda dá pra salvar elas! - Kamui estava imerso em desespero, seu corpo não parava de se mexer e um sentimento estranho começa a tomar conta dele.
- "Odeie, odeie, odeie. Apenas o ódio irá te dar forças, criança." - A misteriosa voz surge outra vez na mente de Kamui, cada vez mais alta. As gramíneas ao chão estavam morrendo e o céu começou a fechar com nuvens de chuva.
Ellen ainda tentava lutar, tentava correr para chegar até Hikari, porém ela é acertada no coração pela adaga de Cassius.
- Pronto, graças a isso, facilitou meu trabalho. Morra de uma vez. - Ele observava Ellen com um olhar de superioridade, come se ela fosse um verme. Em seus últimos momentos, ela rasteja até Hikari e a cobre com seu corpo, olhando para Kamui. Seus lábios ensanguentados apenas dizem estas últimas palavras.
- Desculpa por não proteger vocês. - Após isso, seus olhos perdem a vida e a chuva começa a cair, as gotas de chuva caíram nos olhos de Kamui e a noite antes clara começou a ficar gradativamente mais escura. Apenas os sons de trovões podiam ser ouvidos.
- Agora falta só essa garotinha, matem ela e esse garoto também. - Cassius ordena e começam a tirar o corpo de Ellen de cima de Hikari, que já estava paralisada com o horror que havia contemplado.
- Não... não... - Os olhos de Kamui já estavam arregalados, apenas com uma expressão de fúria.
- "Odeie!"
- Soltem ela...
- "Odeie!"
As armas foram levantadas e Hikari fecha os olhos, quando estavam quase acertando, algo acontece.
- PAREM!!!- Um grito de mais puro ódio ecoa, toda e qualquer luz que havia restando no local havia desaparecido.
- O-o que... Aaa.. - Gritos foram liberados, mas os finais não foram ouvidos. Cassius não entendeu o que estava ocorrendo, não enxergavam nada a frente, mesmo que sentissem as gotas de chuva caindo.
- Atenção! Matem ela lo...- Mais gritos ecoam e, em meio ao escuro, um único brilho azul aparece.
- Odeio... odeio... Vocês todos... vão morrer! - A a voz era totalmente distorcida, porém essa frase foi compreensível, uma voz repleta do mais puro ódio.
- Em posição, é só um inimigo! Ataquem! - Ele ordenou e ondas de magia foram liberadas, porém elas apenas desaparecem em meio ao escuro.
Tudo o que foi ouvido foram mais gritos de desespero e um deles conseguiu dizer algo.
- Socorro! Meu braço! - Essa foi a última coisa ouvida antes da voz cessar por completo.
- Maldição, o que é isso?! - Cassius começa a sentir seu corpo tremer, algo sinistro envolvia seus arredores, enquanto os gritos ficavam cada vez mais próximos.
Durante esse tempo, Zacharie recobre a consciência e começa a procurar por Kamui a fim de ter sua redenção.
- Kamui... como ousa humilhar-me outra vez?! Irei fazer-te pagar! - Ele começa a correr lembrando que Kamui estava correndo em direção à fumaça e decide seguir aquele mesmo trajeto.
Zacharie chega ao local rapidamente, apesar de toda a chuva, porém nota uma área totalmente escurecida, cobrindo até mesmo o orfanato em chamas. Ele não entende nada do que estava a acontecer, apenas ouvia sons de gritos sendo interrompidos.
- "O que é aquilo? O que está acontecendo? Por que meu corpo não se mexe?" - Todas essas dúvidas assolavam a mente de Zacharie, ele não entendia o misterioso fenômeno que ocorria a sua frente, nem o porquê de seu corpo estar em tanto alerta.
Dentro daquela região, mais pessoas estavam gritando, até que um dos homens que estava para executar Hikari foi atingido, Cassius conseguiu pela primeira vez ver a pessoa ser tocada no braço e, a partir dali, começar a desaparecer, sem deixar vestígios.
-"Veja, a realidade de Raret, um mundo arruinado pelas criações da Luz. Um local tão belo, sendo apodrecido por completo. Não merece nenhuma salvação, apenas o ódio deveria restar. Só ele pode limpar esse mundo." - A voz misteriosa ecoa outra vez, guiando a figura em meio à escuridão.
- Ódio! Morram, Sumam! - Mais homens são atingidos e Cassius pega uma das armas que estavam cravadas no corpo de Ellen e começa a apontar para a região a sua frente.
- Para trás! Estamos representando a "Luz" nenhuma presença maligna prevalecerá! Ventus: Invenies! - Ele cria uma zona de ar ao seu redor, procurando por qualquer movimentação. Ele percebe algo o circulando. - Achei você! - Ele estoca a área com a lança, porém ela desaparece. O mesmo processo repete-se inúmeras vezes até ele ficar desarmado.
A escuridão do lugar reduz, agora tudo ficando mais visível, Cassius estava ao chão e uma figura estava ao seu pé, seu rosto estava totalmente escurecido. Porém um raio cai por perto e a luminosidade mostra enfim a identidade da figura. Kamui estava ali, com dentes afiados, mechas prateadas em seu cabelo branco e partes de seu olho estavam pretas. Ver essa imagem por um breve momento, foi o suficiente para Cassius sentir como se tudo se esvaísse.
- N-não... fique longe! - Ele tenta escapar se arrastando pelo chão enquanto mantém o contato visual, jogando pedras ou qualquer coisa que havia por perto. Porém Kamui se aproximava lentamente, como se estivesse aproveitando o desespero de Cassius. - Por que você está aqui?! Você deveria estar...- Ele foi tocado no rosto por Kamui que o segurou com apenas uma mão e ele começou a desaparecer lentamente, sentindo imensa dor.
- Desapareça... existência podre! - Ao terminar essa frase, o homem é apagado. Zacharie que ali estava, nota enfim que não havia os corpos de seus aliados ali, um que fosse, e as coisas ao redor de Kamui estava desaparecendo lentamente.
- O... o que é aquilo?! - Ele cai de costas, chamando a atenção de Kamui, que prepara para correr até ele.
- "Mate." - Kamui estava prestes a perseguir Zacharie quando um som o chama a atenção.
- Senhorita... Ellen. - O garoto olha para trás e nota o corpo de Hikari ainda com vida. A garota estava de olhos fechados e muito ferida, porém viva. Ao notar isso, o Akame recobra os sentidos e sua aparência retorna ao normal, porém ele cai ao chão, completamente exausto.
Zacharie, ao notar aquilo, tudo o que pôde fazer foi fugir, mesmo que tivesse a oportunidade perfeita para capturar Kamui, após ver o que ele havia feito, decidiu escapar por estar dominado pelo medo.
- "O que foi aquilo? Parecia outra coisa... não... aquilo sequer era humano, também não era sua presença de Guardião da outra vez." - Esses foram seus pensamentos enquanto corria, espreitando-se pela floresta de onde veio.
Alguns dias se passam, Kamui e Hikari estavam em frente a um monte de terra, que seria uma cova para seus amigos com Hikari fazendo algumas orações com lágrimas nos olhos, mas os pensamentos de Kamui não estavam naquele momento.
- "Outro mundo? Não... aqui é o Inferno." - Isso foi tudo o que pensou antes de encarar uma chorosa Hikari. - Vamos indo, Hikari... temos que procurar um lugar pra você ficar. - Ele chama a garota, que deixa uma tiara de flores em cima do monte e vai embora com Kamui.
As duas andam por um tempo, até chegarem a um vilarejo próximo. O Akame encontra um orfanato e pede para cuidarem de Hikari, porém a garota permanece chorando, não querendo soltar o garoto.
- Não! Quero ficá com o irmãozão. - Ela estava agarrada às roupas de Kamui, chorando muito, deixando o Akame com uma feição incomodada. - Não queru perdê o irmãozão também!
Ouvindo isso, o garoto apenas suspira e muda para uma expressão mais tranquila.
- Escuta, Hikari. Eu vou para um lugar perigoso, não posso deixar você se machucar. A Ellen e os outros não me perdoariam... - Ele tenta explicar, mas a garota fica com os olhos ainda mais marejados.- Mas prometo que volto para te ver quando terminar.
- Irmãozão, você... me odeia? - Ela faz uma expressão triste, afetando Kamui, que apenas acaricia a cabeça dela e abaixa para ficar na altura dela.
-Não! É só que...- Ele coça a nuca e tem uma ideia.- Já sei, vamos fazer uma promessa de mindinho. - Ele mostra o dedo mindinho para a garota, que fica confusa. - De onde eu venho, é uma promessa que se cumpre ou engolhe mil agulhas. Se eu não voltar pra te ver, vai acontecer isso. - Ele dá um leve sorriso, reconfortado a garota.
- Pode... voltar e... sê minha mamãe? - Ela pergunta, deixando o garoto com olhos esbugalhados. No entanto, Hikari apenas faz uma expressão inocente.- Por favô.
-Eu já disse que... esquece...- Ele estica outra vez o mindinho. - Prometo que voltou te buscar e seremos uma família. - A garota enlaça o mindinho dela ao de Kamui e ele faz as juras. - Promessa de mindinho, quem quebrar come mil agulhas.
Após isso, um sorriso enorme surge no rosto de Hikari , que enfim solta Kamui e aceita ficar no local. Ela acena para Kamui, despedindo-se dele e que retribui com um aceno também. Porém quando se afasta, ele apenas diz poucas palavras.
- Desculpa, Hikari. Mas não planejo cumprir isso. - Sua expressão muda para uma série e ele começa a encarar os arredores como se tudo fosse horrível. - Estou no inferno... e acharei uma forma de voltar pra casa. Não importa como. - Essas são as palavras dele enquanto começa a vagar entre os habitantes de Raret, procurando um meio de retornar para a Terra.
Em outro lugar, um portal se abre e de dentro dele, saem 3 figuras.
- Aqui estamos, Sanzashi, Raret. Faz tanto tempo que saí daqui, me sinto... nostálgica, talvez. - Uma figura de cabelos laranja afirma, com um tom de emoção em sua voz.
- Minha irmã, cuidado, as coisas ficaram mais perigosas aqui desde que você foi para a Terra. - Outra figura mais baixa comenta se forma cautelosa.
- Seja como for, Kamui deve estar em algum lugar desse mundo. Temos que achá-lo de algum jeito. - Um homem de cabelos brancos menciona isso e o grupo começa a andar em direção a uma selva que havia ali perto, sem notar que estavam sendo observados.
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